SEGUNDO PERÍODO

O sexto século depois da fundação de Roma (240 - 150 a.C.).

Este é período em que os romanos começaram a ter uma verdadeira literatura, mas ainda sob a influência grega, retardando as formas literárias nacionais.

Após a sujeição dos gregos da Itália, e mais ainda depois da conquista da própria Grécia, (que foi reduzida à província romana), a religião antiga e simples dos romanos caiu no esquecimento, sendo substituída pela mitologia grega, que era mais atraente. As divindades gregas foram identificadas com os deuses de Roma, e os mitos de uma religião passaram para outra.

Interessante notar que tenha sido neste tempo que tantos gregos vindos a Roma, afagando as vaidades dos conquistadores, fizeram com que acreditassem, serem eles descendentes de algum dos heróis da Ilíade, e inventarem a Lenda de Enéias, e da sua vinda à Itália, tão mantida e zelosamente acreditada pelos romanos.

Todos os romanos cultos deste período escreveram e falaram grego.

Os primeiros historiadores escreveram em grego a história de sua terra, quer por achar seu próprio idioma rude e imperfeito, quer porque sentiam orgulho "em fazer conhecer aos gregos a grandeza de sua pátria".

Por isso não devemos admirar se mal terminada a primeira guerra púnica (a longa rivalidade de Roma e Cartago) foram feitas traduções e adaptações de dramas gregos para o teatro romano.

A influência da literatura grega continuou para sempre e os romanos nunca mais se livraram dela.

A língua latina e sua ortografia se fixaram definitivamente neste período, após muitas tentativas para que fosse introduzida a uniformidade sistemática.

Cada escritor seguia, antes, um método particular ao pôr a língua escrita em correspondência com a falada.

Assim se diz que Ênio foi quem primeiro usou as consoantes duplas e que L. Ácio indicou as vogais longas, duplicando-as.

O mais importante documento literário deste Segundo Período é do ano 186 a.C., descoberto em 1640 perto de Catanzard (conservado em Viena). Há também descrições sobre túmulos dos Cipiões, descobertos nas redondezas de Roma nos anos de 1616 e 1780.

POETAS DO SEGUNDO PERÍODO

· Lívio Andronico - foi certamente o maior dos poetas de seu tempo. Grego de nascimento foi feito prisioneiro na tomada de Tarento (272 a.C.).

Consta que foi levado a Roma como escravo de Lívio Salanitor, que ao notar seu taleto, confiou-lhe a educação dos próprios filhos, concedendo-lhe a liberdade.

Viveu ensinando grego e latim e para uso de seus discípulos traduziu a Odisséia, de Homero, um dos livros mais usados nas escolas romanas.

Pelos poucos fragmentos que restaram, pecava pelo defeito de elegância e falta de esmero.

Traduziu do grego e publicou dramas.

· Gneu Névio - natural de Campânio, mas provavelmente latino, embora não fosse cidadão romano. Representou seu primeiro trabalho dramático em Roma (235 a.C.).

Preferiu a comédia à tragédia por sua altivez e independência de caráter, indiferente se poderia ou não melindrar com sua argúcia, granjeou muitos inimigos, principalmente dos Metelos, que ofendeu com os versos: "Fato Metelli Romai consulas fiunt”.

Foi, por isto, encarcerado e mandado para o exílio. Morreu em Útica (África) em 199 a.C.

Foi Névio o introdutor das tragédias, na literatura dramática, influiu nas comédias, conhecidas como "pretextas" e "togatas" (em caracteres romanos ou nacionais) em oposição às comédias "paliatas" (ou "rintonicas") em caracteres gregos.

Pelo nacionalismo de suas obras, Névio tornou-se popular.

Conhecem-se os títulos de 7 tragédias e umas 36 comédias de sua autoria. 

Em seus últimos anos escreveu um poema épico sobre a primeira guerra púnica (de bello púnico), dividido mais tarde em 7 livros, dos quais os dois primeiros contêm a história primitiva de Roma, e os demais a narrativa da Guerra Púnica.

 · Tito Mácio Plauto - nasceu em Sársina (Úmbria) por volta de 254 a.C., de pais livres, mas humildes.

Em Roma foi adido ao serviço de teatro, entregou-se a especulações comerciais e trabalhou num moinho. Desde então escrevia comédias, tendo-se consagrado mais tarde.

Plauto só escreveu comédias - 130 aproximadamente, tendo 20 delas chegado até nós:

1)     Amphiturno: única de assunto mitológico.
2)    
Asinaria: cômica.
3)    
Aulularia: representa o caráter de um avarento (falta a última parte).
4)    
Bocchides: uma das melhores comédias (faltam as últimas cenas).
5)    
Captiui: (os cativos) comédia sentimental.
6)    
Curculio: assim chamada pelo nome do parasita.
7)    
Casina: retrato do velho enamorado (falta o final).
8)    
Cistellaria: perdida mais da metade.
9)    
Epidicus: cômica, de enredo complicado.
10)
Mostellaria: vivacidade exuberante.
11)
Menaechimi: a mais brilhante de todas, com equívocos divertidíssimos.
12)
Miles gloriosus: caricatura do soldado fanfarrão (O soldado fanfarrão).
13)
Mercato: argumento semelhante ao de Casina.
14)
Pseudolus: comédia agradável.
15)
Poenulus: entre os personagens há um cartaginês falando fenício.
16)
Persa: o protagonista é um escravo.
17)
Rudens: vivacidade das cenas.
18)
Stichus: imitação de uma comédia de Menandro.
19)
Trinummus: descreve cenas familiares.
20)
Truculentus: situações estranhas e vivas.

Pelo que se sabe, todas estas comédias foram escritas em Roma, entre 200 e 189 a.C., sem se saber exatamente as datas.

Plauto tem todas as boas qualidades e todos os defeitos que se podem esperar de um poeta popular daqueles tempos e daquele povo. Entre os antigos romanos, suas comédias eram muito apreciadas, mas no tempo de Augusto, aqueles caracteres de feição arcaica já não mais atraiam os homens de fina cultura.

Pintor inimitável dos costumes populares, Plauto tirou os assuntos dos autores gregos da comédia antiga (Antífanes) ou nova (Menandro). A sua poesia pitoresca e lírica denota uma inversão verbal e rítmica prodigiosa.

Morreu em Roma em 184 a.C..

· Quinto Ênio - nasceu em Rúdias, (239 a.C.), região dos Peucécios, onde se falava tanto grego como Osco.

Militou sob as ordens de M. Pórcio Catão (pretor na Sardenha) durante a segunda Guerra Púnica.

Voltou com Catão para Roma em 204 a.C., aí vivendo consagrado ao ensino do grego e à tradução do grego para o teatro romano, onde vai grajeando a amizade de alguns nobres, principalmente de Cipião, o Africano, o Maior.  

Em 189 a.C. acompanhou o cônsul M. Fúlvio Nobílior na guerra contra os Etólios,  celebrando, mais tarde, sua vitória em um poema.

Tempos depois o filho de Fúlvio Nobílior, obtém para Ênio o direito de cidadão romano.  

Pode-se chamá-lo de verdadeiro fundador da literatura latina: a introdução do hexâmetro (verso de seis sílabas) é obra sua.

As obras de Ênio são em partes originais, em parte imitações ou traduções de escritos gregos. As principais são:

1) Annales: (Os Anais) - a maior e talvez a última em ordem de tempo; poema em 18 livros, onde se celebra a história de Roma (desde a chegada de Enéias à Itália até os tempos do poeta). Nos fragmentos que ainda se possuem - 600 - há passagem de valor.

2) Tragaediae: traduções livres de Eurípedes - há poucos fragmentos.

3) Saturae: coleção de composições variadas, divididas em 6 livros. Uma delas denominava-se Scipio.

O poeta morreu em 160 a.C., foi sepultado no túmulo dos Cipiões e representado no mármore.

 · Marco Pacúvio - sobrinho de Ênio, nasceu em Brindes, em 220 a.C. Acompanhou seu tio a Roma e adquiriu fama de pintor e escritor de tragédia.

Traduziu Sófocles.

 · Cecílio Estácio - contemporâneo de Pacúvio. Nasceu aproximadamente em 219 a.C. na região de Insúbrios.

Foi conduzido a Roma como prisioneiro de guerra ou escravo lá pelo ano 200 a.C.. Libertado, tornou-se amigo de Ênio.

Não se sabe de sua educação bem como se apredeu grego. Mas devia conhecer a literatura grega, pois traduziu a Comédia Ática de Menandro.

Cícero citou muitas vezes seus versos e elegeu-o o mais insígne dos poetas cômicos.

Faleceu em 116 a.C..

 · P. Terêncio - nasceu em Cartago (daí o sobrenome After, Africano) e foi para Roma ainda menino, comprado ou capturado.

Adotado e educado por Terêncio Lucano, recebeu dele a liberdade. Teve amizades com Cipião Africano, o Menor, com C. Lelio, e outros ilustres romanos.

Após ter composto suas comédias (as últimas foram os Adelphos), foi à Grécia estudar, mas morreu durante a viagem, em 159 a.C., aos 25 anos.

As comédias:
1) Andria: é a redução de uma comédia de Menandro, com acréscimo de uma de sua autoria.
2) Eunuchus: representadas nas festas.
3) Heautontimorumenos: o punidor de si mesmo. É uma imitação.
4) Phormio: imitando uma comédia grega de Apolodro de Caristo, tem por título o nome de um parasita, protagonista.
5) Hecyra: a sogra, imitação de uma comédia de Apolodro, encerra um estudo de caracteres. Foi a menos feliz das comédias de Terêncio.
6) Adelphos, os irmãos, derivada de uma comédia homônima de Menandro.

Além de Titínio, que cultivou somente a togata, e Turpílio, que não escreveu senão paliatas, cita-se Lúcio Ácio, nascido em 170 em Pêsaro, de pais libertos. Viveu em Roma em relação íntima com D. Júnior Bruto (cônsul), considerado por alguns como o maior poeta trágico de Roma.

Compôs:

1) Didascalica: espécie de história da poesia grega e romana.
2) Pragmaticon libri: relativo à história de arte.
3) Parerga: de assunto relativo à agricultura.
4) Annales: 3 livros.

PROSADORES DO SEGUNDO PERÍODO

 Como vimos, os primeiros historiadores romanos escreveram suas obras em grego.

Os mais importantes deles são Q. Fábio Pictor e L. Cíncio Alimento.

· Q. Fábio Pictor - floresceu no tempo da segunda guerra púnica. Depois da batalha de Canas (216 a.C.), foi enviado como embaixador a Delfos para consultar o Oráculo.

Escreveu uma história de Roma, desde Enéias até os seus dias, contendo a narração da segunda guerra púnica.

 · Cíncio Alimento - contemporâneo de Fábio Pictor, foi pretor em 210 a.C..

Foi prisioneiro de animal. Compôs em grego os Anais de Roma, sendo muito mais minucioso nos acontecimentos contemporâneos.

 · M. Pórcio Catão: também chamado O Antigo ou O Censor.

Célebre pela autoridade de seus princípios: envidou todos os esforços para reprimir o luxo, que corrompia Roma. Patriota sincero.

Tornou-se o escritor mais fecundo dos contemporâneos, até o verdadeiro criador da prosa latina.

Foi, segundo Quintiliano, ao mesmo tempo grande general, filósofo, orador, historiador, jurista e versado em agricultura.

Obras literárias:

1) Orações: são as primeiras escritas e publicadas, se não se levar em conta a célebre oração de Ápio Claudio contra Pirro.
Cícero conhecia mais de 150: temos notícia de umas 80, parte por fragmentos ainda existentes. Algumas são judiciárias, outras políticas.

2) Orígenes: é o título mais notável entre as obras de Catão. Divide-se em 7 livros onde se narra: a história dos reis de Roma (1º); as origens das cidades e população da Itália (2º e 3º); a primeira guerra púnica (4º); a segunda guerra púnica (5º) e os restantes as outras guerras.

3) Praecepta ad filium: foram escritos para a educação do filho.
Muitos de seus escritos visavam guiar o jovem romano em todas as contigências da vida.
Com o mesmo intento dirigiu Catão ao filho várias cartas e um carmen (versos líricos, poema canto).

4) Facet dicta: coleção de ditos chistosos e mordazes.

5) De re rustica: sobre agricultura (vinho e azeitonas), com ensinamentos sobre plantações.

Os oradores mais célebres, contemporâneos de Catão, são:

· A. Fábio Máximo, o temporizador
· Q. Cecílio Metelo
· Cipião Africano, o maior, etc.

Juristas: S. Hélio Peto, escreveu Tripertita, livro sobre leis.

Historiadores: C. Acílio, A. Postúmio Albino e P. Cipião Nasica.

Pelo ano 230 o liberto Sp. Carvílio foi um dos primeiros a abrir uma escola pública em Roma, e parece ter introduzido a letra "g", rejeitando definitivamente o "z".

O alfabeto, assim modificado, continha 21 letras.

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