QUARTO PERÍODO

Idade de Cícero e de Augusto (80 a.C. - 14 d.C.).

 Pode-se chamar de a Idade Aúrea da literatura latina, tanto pela forma como pela substância.

Durante a primeira metade deste período, caracterizado por Cícero, a prosa atinge a sua máxima perfeição. Já a poesia tem seu melhor momento nos tempos de Augusto.

Da ditadura de Lúcio Cornélio Sila à batalha de Ácio todo acontecimento político foi mais grave e com mais freqüência do que no passado.

Por conseqüência, a literatura de índole política continua predominando, particularmente a oratória, sempre sob a influência grega. Vai rareando o número daqueles que, como Varão, procuram manter vivo o espírito nacional.

Os gregos encontram-se em cada casa como mestres, leitores, secretários ou companheiros de vida, que se esforçam por granjear benevolência dos seus patrões e conseguir certa comodidade e fartura. Daí o nome de grego "graeculus" usado como termo de desprezo.

É costume entre jovens romanos passar tempos em Atenas, Rodes, Mitilena para estudar retórica e filosofia.

Obras literárias e de arte são trazidas a Roma.

Os modelos antigos já não são mais imitados. Os oradores não tomam Demóstenes por guia.

 Da ditadura de Sila ao consulado de Cícero (80 - 63 d.C.).

O mais importante escritor deste tempo é M. Terêncio Varrão Reatino, nascido em Rieti, no ano de 116, de antiga família senatória. Íntimo amigo de Pompeu, de Ático, de Cícero, obteve o tribunato da plebe, a edilidade curul e a pretura.

Como escritor foi de uma fecundidade maravilhosa. Suas obras (74, em 620 livros) infelizmente se perderam e restam apenas 2, mutiladas.

Sua maior obra, "De re rustica" ou "verum rusticarum libri tres" conservou-se inteira, salvo uma lacuna no princípio do 2º livro.

Viveu retirado os últimos anos, dedicando-se à pesquisa literária, até 27 a.C. quando morreu quase nonagenário.

O orador mais célebre entre os contemporâneos de Cícero foi Q. Hortênsio Hortálio, nascido em 114 a.C..

De extraordinária memória e pela elegância, foi considerado como "orador príncipe".

Pronunciou um número sem conta de orações.

Durante o primeiro período de vida de Cícero, não se conhecem escritores insígnes.

Dentre os historiadores, amigos de Cícero, o mais conhecido é T. Pompônio Ático, que deixou brevíssima história de Roma (Annalis).

 Na jurisprudência temos:

-          S. Sulpício Rufo: o mais eminente cultor.

-          Marco Túlio Cícero: o mais eloqüente dos oradores.

Nasceu em Arpino, em 106 a.C., foi educado em Roma, onde desde os 17 anos prepara-se para a vida pública, freqüentando o hábil jurisconsulto Q. Múcio Cévola, tornando-se seu assíduo.

Além dos estudos das leis e da retórica, atendeu ao da filosofia e da poética. Viajou por mais de 3 anos na Grécia e Ásia Menor. Volta para Roma. Foi eleito questor (75 a.C.), edil curul (69) e pretor urbano (63).

Combateu Catilina e fez condenar seus cúmplices, o que lhe valeu o título de "Pai da Pátria". Foi partidário de Pompeu e mais tarde de César, depois da batalha de Farsália.

Quando César morreu, declarou-se contra Antônio. Proscrito pelo 2º triunvirato, quis fugir, mas foi assassinado perto de Fórmias por ordem de Antônio e de sua mulher Fúlvia, que ele havia atacado em suas "Filipicas" (43 a.C.).

Sem rival na eloqüência judiciária, pela riqueza da sua imaginação, pela flexibilidade do seu espírito cheio de graça e de sedução, pela habilidade de sua dialética, Cícero é, como escritor, a suprema expressão do gênio latino, modificado pelo gênio grego.

Os seus tratados filosóficos são ao mesmo tempo monumentos históricos e modelos de elocução.

Entre seus discursos políticos serão eternamente célebres a Verrinas, as Catilinárias e as Filípicas.

A sua correspondência é do mais alto interesse.

As suas obras devem assim classificar-se:

-          orações (57, mais alguns fragmentos)

-          obras retóricas (restam 7)

-          obras filosóficas (em forma dialógica)

-          obras históricas (perdidas ou fragmentos)

-          correspondência epistolar (restam 5)

-          obras poéticas (fragmentos)

Desta época citamos:

-          Q. Túlio Cícero (irmão de Cícero)

-          M. Túlio Tirão

-          Décimo Labério

-          C. Melisso

-          Públilio Siro

-          M. Fúrio Bibáculo

  Do consulado de Cícero até sua morte

 A mais eminente figura depois de Cícero é C. Júlio César (filho de C. César), nascido a 12 de julho do ano 100 a.C..

Estudou oratória em Rodes com Apolonio, eleito cônsul em 59 a.C. após ter concluído o triunfirato com Pompeu e Crasso. Administrou a Galia e atingiu o sumo poder do estado do qual se tornou senhor absoluto com o ofício de ditador.

Uma terrível conjuração no Senado contra ele tira-lhe a vida, a 15 de março do ano 44.

Lembrado como um dos maiores homens da história, não só como general, mas como orador e estadista, Júlio César foi, entretanto, inferior a Cícero.

Escreveu sobre argumentos gramaticais e astronômicos.

De suas orações restam apenas fragmentos:

-          De analogia (2 livros)

-          De astris.

Restam as obras inteiras:

1)     Commentarii de bello gallico (7 livros)

2)     Commentarii de bello civili (3 livros).

 

· Cornélio Nepos

Oriundo da Itália superior, viveu em intimidade com Cícero, Ático e Catulo.

Nasceu provavelmente durante o governo de Augusto (24 a.C.).

Não há muitos detalhes sobre ele. Inferior aos seus grandes contemporâneos, sabe-se que compôs Carmes eróticos, uma chornica, Exempla, a vida de Catão, de Cícero, e também uma obra histórica, em 16 livros, dos quais subsiste apenas um: "Vitae excellentium imperatorum".

 · P. Nigídio Fículo

Nasceu em 90 a.C., foi pretor como partidário ardente de Pompeu, exilado por César. Morreu em 45 a.C..

Das obras de que se possuem fragmentos, citamos:

-          De extis

-          De diis (19 livros)

-          De ventis, etc.

 · Valério Catão

Ocupou-se de gramática e de poética. Escreveu ainda carmes eróticos e mitológicos Lídia, Diana e talvez das agressivas Dirae.

 Ainda contemporâneos citamos:

-          T. Lucrécio Caro (95 a.C. - 51 a.C.)

-          C. Salústio Crispo (87 a.C. - 35 a.C.).

-          Q. Hélio Tuberão

-          P. Terêncio Varrão Atacino

-          M. Júnio Bruto (um dos assassinos do triúnviro)

-          C. Élvio Cina

-          C. Lícínio Calvo (82 a.C. - 47 a.C.) - hábil orador

-          Caio Valério Catulo

O maior lírico deste período e de toda a literatura. Nasceu em Verona (87 a.C.).  Possui 116 composições; nas primeiras das quais, especialmente no Poemeto de natureza épica "Para as núpcias de Peleu e Tétis"; depois a experiência da vida e do amor por Lésbia desenvolveram nele a genialidade do pensamento.

As suas poesias são elegantes e sinceras, mas muito livres e muitas delas inspiradas pela paixão ardente pela famosa Lésbia (nome verdadeiro de Clódia).

Morreu cerca de 54 a.C..

 Da morte de Cícero à morte de Augusto (43 a.C. - 14 d. C).

  A passagem da República para o Regime Monárquico exerceu grande influência sobre a literatura (e vida política e social) de Roma.

A literatura, que costumava ser uma distração para o espírito dos homens que tinham consagrado suas energias à vida pública, tornava-se agora um artifício.

Entre os representantes da literatura neste período, alguns assistiram à ruína da República, mostram uma tristeza pela liberdade perdida e outros, nascidos já sob a nova forma de governo, gozavam sem saudades a paz e a prosperidade de que é portadora.

 · Augusto

Além de ter sido um orador excelente, por elegância, clareza e concisão, ocupou-se da poesia.

Escreveu um poema intitulado "Sicília" e uma coleção de "epigramas".

Mas as obras mais importantes foram escritas em prosa: 3 livros.

 · C. Cílnio Mecenas

Conselheiro de Augusto nasceu em 69 a.C. e morreu no ano 8 a.C..

Vivia em missões diplomáticas, a serviço de Augusto.

Gentil e inclinado à paz, nunca tomou parte ativa nos negócios públicos. Foi o protetor das letras.

Destacamos:

-          M. Vipsanio Agrida (63 a.C. - 13 a.C.).

-          Asínio Polião - compôs tragédias, batalhas, orações, críticas.

-          M. Valério Messala Corvino (58 a.C.) compôs bucólicas.

-          L. Vário Rufo - poeta

-          Emilio Macrão - escreveu poemas.

-          P. Vergílio Marão

Nasceu em Mântua a 15 de outubro do ano 70. Viveu em Milão, Roma e Nápoles. Estudou filosofia. Uma dos primeiros ensaios poéticos foi, sem dúvida, o "Culex".

Após a morte de César, volta à terra natal. Tempos depois escreve sua primeira égloga, em homenagem a Augusto.

Após longa preparação, pôs-se a escrever o épico Eneida no ano 25 e em 23 lê para Augusto o 2º, o 4º e o 6º livro.

O mais célebre dos poetas latinos escreveu ainda:

-          Geórica  - 4 livros

-          Bucólica - 10 églogas

-          Eneida - poema - 12 livras (começado e não terminado).

Outros representantes:

-          Q. Horácio Flaco - (65 a.C. - 8 a.C.).

Célebre poeta, autor de Odes, Epodos, Epístolas, Sátiras e da Arte Poética.

Amigo de Augusto, de Virgílio e também protegido de mecenas, fazia consistir a felicidade no uso moderado dos bens da vida.

Seus versos são modelos eternos de delicadeza e bom gosto.

Domício Marso - considerado o precursor de Marcial por uma coleção de epigramas.

Álbio Tibulo - o mais célebre escritor de elegias (4 livros).

Sexto Propércio - poeta (4 livros).

Públio Ovídio Nasão

Nasceu na Sulmona (43 a.C.), estudou retórica em Roma, com grandes mestres, em Atenas e na Ásia. Escreveu:

-          Metamorfoses

-          Fastos

-          A arte de amar.

Poeta brilhante, amigo de Virgílio e Horácio, protegido de Augusto, foi exilado e lá morreu em 17 de nossa era.

 Podem ser lembrados:

-          Pôntico (compôs uma Thebais)

-          Macrão (Antehomerica e Posthomerica)

-          Cornélio Severo  - De bello Siculo

-          Júlio Antonio e Pedão Albinouano - que celebram a Diomedes

-          Gracio Falisco - Cynegetica

 Historiadores

Tito Lívio (Pádua, 59 a.C.).

Narrou a História de Roma em 142 livros (Décadas). Mais notável pelo estilo do que pela autenticidade dos fatos.

Faleceu a 19 de nossa era.

-          Pompeu Trogo (44 livros)

-          Fenestela - escreveu Annales

-          M. Vério Flaco - escreveu Fastos

-          Júlio Higino (natural da Espanha) - escreveu, entre outros, as "Fabulae").

-          Vitrúvio Polião (De architetura)

-          M. Antístio Labeão (jurisconsulto)

-          C. Ateio Capitão - deixou 10 livros

-          T. Labieno - grande orador

-          Cássio Severo - orador

-          P. Rutílio Lupo (retórico)

-          M. Aneu Sêneca (nascido em Córdova, na Espanha).

Publicou no fim da vida uma coleção de Controversiae (10 livros) e uma obra intitulada "Suasoriae".

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